Wlirian Nobre
Geógrafo e
professor
De acordo com a
Agência Espacial Americana (NASA) o ano de 2014 foi o ano mais quente desde
1880, ano em que começam os registros da temperatura no planeta. O pior de tudo
isso é que nesses 134 anos de medição os dez anos mais quentes, com exceção de
1998, foram de 2000 pra cá. Isso é estatística, é fato, portanto, não há dúvida
sobre o aquecimento global assim como não há razão para otimismo.
Chegamos a um
momento crítico de nossa existência. Somos uma só humanidade e um único planeta
e, portanto o nosso destino é comum. Ou formamos uma aliança global com uma
consciência planetária ou não conseguiremos salvar a nossa civilização.
De acordo com
Boff (2013), a Terra conheceu 15 grandes dizimações. A última ocorreu a 65
milhões de anos atrás. Agora, as provas são irrefutáveis, é a espécie humana
que ameaça todas as formas de vida do planeta. Estamos travando uma guerra
irracional com a natureza apenas para acumular riqueza. Apenas 7% dos mais
ricos contribuem com 50% das emissões de gases do efeito estufa, é um desejo
infinito num planeta que é finito. Considere que em 2070 seremos cerca de 10
bilhões de habitantes e precisaremos aumentar a produção de alimentos em cerca
de 70%. Se todos os habitantes desejarem levar uma vida semelhante ao modo de
produção e consumo dos países capitalistas avançados “apenas às reservas de
petróleo conhecidas seriam esgotadas em 19 dias” (LÖWY, 2014, p.46).
Se depender dos
governos e da elite dominante, obcecada por riqueza material, entraremos numa
fase de desastres ecológicos de proporções incalculáveis. O exemplo da última
conferência do clima representa bem essa realidade. A COP-19 realizada em Lima,
no Peru, em dezembro do ano passado, foi um grande teatro do absurdo. Em 10
dias de reuniões os representantes dos 196 países não chegaram a um consenso e
mais uma vez jogaram as decisões importantes para o próximo encontro que
ocorrerá em Paris no final desse ano.
Lamentavelmente
os governos não conseguem perceber a urgência da crise ambiental e vão adiando
acordos importantes para não afetar sua economia. As propostas dessas
conferências são apenas paliativas que suavizam os problemas. Mas as mudanças
não são simples, é preciso uma profunda mudança de paradigma (visões, valores,
tradições, saberes, etc.). É preciso uma mudança radical, as meias medidas, as
semirreformas, as conferências, os créditos de carbono são incapazes de dar uma
solução ao problema.
No sistema
capitalista vigente a busca da sustentabilidade é pura fantasia, tudo é visto
pela ótica do mercado, o desejo é maximalizar os lucros à custa da natureza
gerando desigualdades sociais e desequilíbrios ecológicos. A raiz do problema é
o “consumo fundado na ostentação, no desperdício, na alienação mercantil e na
obsessão infinita por riqueza” (LÖWY, 2014, p. 48). Como reverter isso sem
romper com a lei do mercado, do lucro e da acumulação desenfreada. Somente um
projeto de mudança radical pode fornecer uma alternativa ao progresso
destrutivo capitalista.
A verdadeira
sustentabilidade que visa o coletivo, a cooperação e a harmonia entre todas as
formas de vida está na contramão do sistema capitalista. Cresce no mundo
inteiro um movimento de inconformismo, pessoas que reagem, contestam, subvertem
e desobedecem as determinações desse sistema padronizante. Entretanto, essas
mudanças de comportamento e atitude ainda são insuficientes, é preciso romper
com os fundamentos da civilização capitalista. Esperamos que a COP-20 seja um
evento global onde as populações possam encurralar os governos para que esses
rompam com a ditadura da economia lançando os alicerces de uma nova sociedade,
antes que o planeta mergulhe no caos.
REFERÊNCIAS
BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que
é – o que não é. 2º ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
CARLSSON, Chris. Nowtopia: iniciativas
que estão construindo o futuro de hoje. Porto Alegre: Tomo editorial, 2014.
LÖWY, Michael. O que é o ecossocialismo?
2º ed. – São Paulo: Cortez, 2014.
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